Em torno do mistério, para ver magnificado o que antes só se via pelas frestas, para recontar histórias de partidas, retornos e transformadoras visitas, a vila se reúne. O gesto ancestral de comparecer ao conselho da luz para a tradição do assombro tem um eco nítido nesta segunda sessão do Cine dos Campos.
Ampliar o que se vê e fazer ouvir bem de perto são procedimentos próprios do cinema, prerrogativas das quais os filmes desta sessão lançam mão para compor um tecido de experiências novas sobre memórias que resistem. A impressão do texto sobre o papel, da imagem sobre a película, do que-quer-que-seja sobre a lavoura, do trabalho árduo sobre o corpo, são as marcas primeiras, o conjunto de indícios, vestígios, provas com o qual estes filmes trabalham para produzir a substância de memórias futuras, aquilo de novo do qual seremos portadores quando sairmos da sala. Se ir adiante é inevitavelmente também ir embora, tenhamos sempre um encontro marcado neste lugar onde imagens pequeninas se projetam enormes, onde os requintes verbais dos fuxicos de varanda crepitam forte e o jeito de falar tão singular que só poderia estar em vias de desaparecer estala audível, claro, tornando-se assunto novo, memória nova, francamente partilhada entre cada um dos que vieram. (Gustavo Pinheiro)